O mercado mundial do petróleo está alvoroçado: a produção de óleo cru está a crescer sem que exista uma maior demanda e, segundo a Agência Internacional da Energia (IEA, por suas siglas em inglês), os preços do petróleo seguirão caindo durante 2015. Em palavras da agência, “É provável que já tenhamos entrado num novo capítulo da história dos mercados de petróleo”.

Autor da imagem: Arne Hückelheim via Wikimedia Commons.
Nas últimas semanas, o preço do óleo cru Brent, uma das maiores referências do mercado, chegou a estar por debaixo do mínimo alcançado nos últimos quatro anos: 80 dólares o barril (ao escrever estas linhas, chegava a 75). Os membros da OPEP se reunirão no próximo dia 27 de novembro para discutir as políticas de preços a seguir em função da atual oferta e demanda; não obstante, segundo os analistas, as causas desta caída não são justificadas exclusivamente pela dinâmica deste binómio mas pelas razões geopolíticas (ler os artigos Dança das cifras, e das cadeiras, no cenário mundial do óleo cru e O gás de xisto e a neoestratégia dos EUA publicados previamente neste blog).

Autor da imagem: Amiralis via Wikimedia Commons.
Num cenário como o atual, o lógico seria que os principais países produtores de óleo cru, como Arábia Saudita, reduzissem a produção para forçar a subida de preços e manter seus ingressos; no entanto, isso não é o que está a ocorrer. Por outro lado, os países que graças à técnica do fracking estão a conseguir uma maior independência energética e estão passando a ser exportadores, como Estados Unidos, poderiam encontrar-se seriamente afetados se os preços seguissem a tendência atual, já que este método de extração resulta em custos que deixariam de fazê-lo lucrativo. Tendo em conta o anterior, alguns especialistas opinam que a estratégia de Arábia Saudita de manter seu volume de extração (apesar de que esta decisão lhes acarreta perdas económicas) poderia ser devida à sua intenção de afetar algumas economias, como a de Rússia, e travar a produção do “novo” óleo cru nos Estados Unidos.
Seja quais forem as razões que estão a agitar o mercado do petróleo, certamente os países mais energeticamente dependentes são os que estão saindo mais beneficiados desta situação. Europa, por exemplo, está a experimentar uma queda em sua demanda energética, o que ao somar-se à tendência baixista do óleo cru, poderia contribuir a estimular a sua economia; apesar de que deve-se levar em consideração que fica pendente dos movimentos feitos pela Arábia Saudita. Agora cabe perguntar-se como a situação influenciará as petroleiras, em que medida a baixa cotização do óleo cru significará uma poupança para as indústrias e empresas com um grande gasto de combustível e quando os consumidores verão o resultado do decaimento na prática, no que pagam pela gasolina, pelo gasóleo ou pelas passagens de avião. Ou talvez haveria que se questionar até onde os particulares e empresas notarão a involução da cotização já que, ainda que o óleo cru siga em queda livre, os custos para refiná-lo e transformá-lo em carburantes não variam, nem os impostos aplicados ao litro de gasolina. Além disso, as petroleiras estão a ver suas vendas diminuírem, pelo que dificilmente renunciarão às suas margens de benefício, e a depreciação do euro não tem um papel a favor (as petroleiras compram o óleo cru em dólares e vendem os carburantes em euros).
Veremos o que ocorre na reunião da OPEP.